Artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado.
A VERDADEIRA
HISTÓRIA DA CALCINHA ( II )
Segue, abaixo,
a prometida segunda parte de A verdadeira história da calcinha, aqui publicada duas
semanas atrás. Lembremos que essa primeira parte trata dessa genial invenção
humana, desde os primórdios até a
chegada do século XIX:
1.Ao longo
do século XIX novos tipos de tecido foram criados, com formas cada vez menores e ousadas buscando gradativamente
a combinação entre sensualidade e
conforto, mas essas transformações só vieram pra valer mesmo a partir da metade
do século passado quando uma série de conquistas de liberdade de expressão e
corpo começaram a ganhar espaço a partir
dos Estados Unidos. Se no século XIX as mulheres usavam ceroulas que iam até
abaixo dos joelhos, o surgimento da lycra e do náilon possibilitou uma série de
inovações, o que permitiu chegar até a
um curioso modelo nos anos 90: uma calcinha com bumbum falso, com um enchimento
de espuma de nylon de vários tamanhos e modelagens. Adivinhem de onde veio a ideia?
Acertaram os
que votaram no país do mundo mais especializado
em bumbum (e infelizmente no que sai dele) : o Brasil, que até então ainda não ganhara oficialmente a
copa - do bumbum - mas já caminhava para isso.
2. A primeira
guerra mundial provocou uma revolução no comportamento feminino já que as
mulheres passaram a ocupar funções de maior importância na sociedade e de maior
liberdade de movimentos. Ou seja, enquanto os maridos se comprimiam nas
trincheiras protegendo-se do inimigo suas mulheres espaçavam-se em busca dos ‘amigos’
e haja calcinha querendo ser menor e mais aderente ao corpo. Os seios também adquiriam
vontade própria e pediam praticidade e... Olhares. Assim, a partir de 1914 o
sutiã foi devidamente reconhecido na América industrial quando foi patenteado pela socialite nova-iorquina Mary Phelps Jacob. A primeira
peça fabricada por ela era feita com dois lenços, um pedaço de fita cor-de-rosa
e um pouco de cordão, fazendo com que, diante da incrível novidade, os pedidos
proliferassem. Logo a seguir, a fábrica de roupas femininas Warner Brothers
Corset Company, comprou a patente mostrando que as patentes pulavam de mão em
mão tão depressa quanto os seios.
Era o inicio
da industrialização da lingerie. A partir daí as calcinhas da época passaram a
inovar até chegar a um acessório sensual
muito usado na década de 20, a charmosa cinta-liga, imediatamente chamada (do
ponto de vista masculino) de sinta-a-liga. O cinema e as casas de espetáculo
cuidaram de espalhar, pelo imaginário masculino, o modelo das dançarinas de
Charleston que exibiam suas cintas-ligas por baixo das saias de franjas,
enquanto se sacudiam ao som frenético de jazz-bands.
Veio a
recessão e a indústria americana tratou de encontrar uma alternativa mais
resistente e barata, quando em 1938 a Du Pont criou o nylon, mudando de vez a
história da lingerie. Adeus rendas e bordados! Mas não foi só a matéria-prima
que mudou, as mulheres também. A feminilidade passou a ser explorada pela mídia
e os anos 50 podem ser considerados fundamentais para a revolução das
calcinhas, exibidas no cinema. (Se hoje tem marmanjo que se baba diante do que contêm
as calcinhas de Valeska Popozuda ou de Gisele Bundchen imagine o que seriam
capazes de fazer, anos atrás, diante das calcinhas de Sofia Loren ou Marylin Monroe!). Era de fazer
qualquer adolescente, futuro cronista ou não, não arredar o pé do cinema para
assistir Boccaccio 70 com a mulher mais linda e sensual de todos os tempos
(Sofia). Independente do cinema, não raras vezes sempre se dava um jeito para
que a peça pudesse ser vista mesmo por debaixo de tantas saias e anáguas. Nos
colégios, a cor da calcinha da professora (quando valia a pena) estava mais na
ponta da língua dos alunos do que quem descobriu o Brasil. Até chegar aos anos
70.
3. No fim da
década de 60, o movimento feminista por igualdade de direitos ganhou as ruas.
Acabara-se definitivamente a ditadura do recato e do erotismo e o padrão da
geração “paz e amor” enaltecia os seios pequenos. As mais radicais até
queimavam os sutiãs em público numa demonstração de liberdade. Aliás, bons
tempos esses em que para se protestar queimavam-se sutiãs ao invés de ônibus!
O
comprimento das saias subia pelas coxas das mulheres mais depressa do que o
dedão do Ricardão até se transformarem em mini, pelas mãos da estilista Mary
Quant, Subia, subia, enquanto inúmeras variações de peças íntimas surgiam e se
consolidavam. Transparências, rendas, tecidos mais finos, tangas – não havia
mais limites para a moda e a imaginação das estilistas, até que as mulheres
resolveram dar um basta nesse sobe-mas-nunca-chega quando, depois de abolir os
sutiãs, dispensaram de vez as calcinhas, aparentemente buscando... conforto.
Uma imensa geração afirmava já em 1980 que nada usavam por baixo da camiseta ou
de seus jeans.
4.O desprezo
às calcinhas, felizmente, durou pouco.
As mulheres não demoraram a perceber que tanto a calcinha quanto o sutiã
eram fundamentais para manter os seios e a sensualidade e logo concluíram que
radicalizaram demais ao investir contra as duas peças como sinônimo da
opressão. Hoje, a lingerie atual possui duas vertentes, uma mais elaborada
adotada para ser vista e feita em tons variados, dos clássicos preto e branco
ao rosa, verde água ao azul-claro. A outra, predominando o branco e o preto, é
essencialmente básica, com modelos sem costura, feita em tecidos elásticos que
não retêm a umidade e são, sobretudo, “respirantes”.
Ou seja,
independente de qual seja a vertente da fabricação o essencial na busca da
perfeição é que o único elemento a ficar sem respiração continue a ser, cada
vez mais, o homem.
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