sábado, 2 de abril de 2016

CRUYFF E A MAGIA DO FUTEBOL




artigo publicado quinta-feira no jornal
o Estado do Maranhão

Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar  suicidas

                Coisa de louco? Os caras se mexiam em blocos triangulares, retangulares, piramidais e quantas figuras geométricas mais fossem possíveis criar em torno de uma bola. Atônitos estavam eu,  a plateia que me acompanhava à frente de uma televisão,  e o time da Argentina que, no estádio, levava gol em cima de gol.
            Ninguém jamais havia visto coisa parecida em matéria de futebol. Não é que os onze, vestidos na cor laranja, fossem sequer fantásticos.  


                                                       

                                                  

(Fantásticos foram os brasileiros, 4 anos antes). O que havia de fantástica ali era a organização coletiva de um time executando diferentes funções sem posição pré-determinada, uma espécie “Um por todos e todos por um”. Quem executava esse ‘concerto’ era a  Holanda, que se sagrou vice-campeã da Copa de 1974.Poucos se deram conta que ali se iniciava uma revolução na concepção da prática do futebol tradicional, a mais importante, e, talvez, a última.
            40 anos depois desse episódio, semana passada, eis que morre Johan Cruyff que se tornou símbolo dessa equipe, justamente por ser aquele que estava mais perto do genial,  mas sem chegar a sê-lo (Sim, porque ser gênio é para pouquíssimos: Pelé, Garrincha, Maradona e, agora, Lionel Messi). Nesses 40 anos  toda a evolução futebolística acontecida foi, de uma forma ou de outra, consequência dessa, num esporte cuja maior sedução para as plateias não está a  reboque de aprimoramentos científicos de capacitação física , mas sim na capacidade de um mais fraco vir a ganhar do mais forte, para delírio e satisfação de desvalidos e marginalizados.  Somente no futebol poderiam ter sido gênios  atletas aleijados como Garrincha ou baixotes atarracados como Diego Maradona.
            Pois Johan Cruyff encarnou e simbolizou o que pode ser feito em termos de organização tática para o atingimento da vitória, com plasticidade e beleza, mesmo  sem as jogadas típicas dos talentosos. 


                                                  



A interpretação do que estava ocorrendo, porém, uma encruzilhada com apenas duas opções de entendimento, viria a ter consequências salutares para uns (os europeus), e desastrosas para nós, brasileiros.
            Enquanto os  cinturas duras europeus enxergaram no aprimoramento tático a forma de superarem suas limitações de talento, técnicos brasileiros vindos do Rio Grande Sul, especialmente depois do fracasso brasileiro na copa de 1982, aproveitaram para tomar conta da ‘intelligentsia’ futebolística nacional,  inserindo a filosofia do futebol de resultados oriunda desse estado: de vitórias obtidas à custa de pancadaria, com ênfase na tão famosa garra gaúcha, para esconder um futebol de brutamontes. Foram expoentes nessa disseminação o tosco Felipão e o limitado Dunga (desde quando jogador). Castrou-se  paulatinamente o surgimento de jogadores notáveis e partiu-se rumo ao maior fracasso do futebol brasileiro em  todos os tempos; perder de 7 a 1 em sua própria casa.
            Se fossem menos arrogantes esses técnicos teriam buscado aprender com o próprio Cruyff  que,  considerando-se um admirador do futebol brasileiro,  lamentava  que  num país onde nascem tantos talentos, se praticasse, hoje, um futebol sem beleza e sem vitórias. Então, esses obtusos senhores parodiariam a famosa frase de Che Guevara ensinando, por sua vez, aos seus jogadores: “Hay que endurecerse, pero sin ‘perder a ternura e a beleza do futebol’ jamais”.
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com
                                                           http://www.joseewertonneto.blogspot.com



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