artigo publicado quinta-feira no jornal
o Estado do Maranhão
Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas
Coisa de louco? Os caras se mexiam em
blocos triangulares, retangulares, piramidais e quantas figuras geométricas
mais fossem possíveis criar em torno de uma bola. Atônitos estavam eu, a plateia que me acompanhava à frente de uma
televisão, e o time da Argentina que, no
estádio, levava gol em cima de gol.
Ninguém
jamais havia visto coisa parecida em matéria de futebol. Não é que os onze, vestidos
na cor laranja, fossem sequer fantásticos.
(Fantásticos foram os brasileiros, 4
anos antes). O que havia de fantástica ali era a organização coletiva de um
time executando diferentes funções sem posição pré-determinada, uma espécie “Um
por todos e todos por um”. Quem executava esse ‘concerto’ era a Holanda, que se sagrou vice-campeã da Copa de
1974.Poucos se deram conta que ali se iniciava uma revolução na concepção da
prática do futebol tradicional, a mais importante, e, talvez, a última.
40 anos
depois desse episódio, semana passada, eis que morre Johan Cruyff que se tornou
símbolo dessa equipe, justamente por ser aquele que estava mais perto do genial,
mas sem chegar a sê-lo (Sim, porque ser gênio
é para pouquíssimos: Pelé, Garrincha, Maradona e, agora, Lionel Messi). Nesses 40
anos toda a evolução futebolística acontecida
foi, de uma forma ou de outra, consequência dessa, num esporte cuja maior
sedução para as plateias não está a reboque de aprimoramentos científicos de
capacitação física , mas sim na capacidade de um mais fraco vir a ganhar do mais
forte, para delírio e satisfação de desvalidos e marginalizados. Somente no futebol poderiam ter sido gênios atletas aleijados como Garrincha ou baixotes atarracados
como Diego Maradona.
Pois Johan
Cruyff encarnou e simbolizou o que pode ser feito em termos de organização
tática para o atingimento da vitória, com plasticidade e beleza, mesmo sem as jogadas típicas dos talentosos.
A
interpretação do que estava ocorrendo, porém, uma encruzilhada com apenas duas
opções de entendimento, viria a ter consequências salutares para uns (os
europeus), e desastrosas para nós, brasileiros.
Enquanto os cinturas duras europeus enxergaram no
aprimoramento tático a forma de superarem suas limitações de talento, técnicos
brasileiros vindos do Rio Grande Sul, especialmente depois do fracasso
brasileiro na copa de 1982, aproveitaram para tomar conta da ‘intelligentsia’
futebolística nacional, inserindo a
filosofia do futebol de resultados oriunda desse estado: de vitórias obtidas à
custa de pancadaria, com ênfase na tão famosa garra gaúcha, para esconder um
futebol de brutamontes. Foram expoentes nessa disseminação o tosco Felipão e o
limitado Dunga (desde quando jogador). Castrou-se paulatinamente o surgimento de jogadores notáveis
e partiu-se rumo ao maior fracasso do futebol brasileiro em todos os tempos; perder de 7 a 1 em sua
própria casa.
Se fossem
menos arrogantes esses técnicos teriam buscado aprender com o próprio Cruyff que, considerando-se
um admirador do futebol brasileiro, lamentava que num
país onde nascem tantos talentos, se praticasse, hoje, um futebol sem beleza e
sem vitórias. Então, esses obtusos senhores parodiariam a famosa frase de Che
Guevara ensinando, por sua vez, aos seus jogadores: “Hay que endurecerse, pero sin
‘perder a ternura e a beleza do futebol’ jamais”.
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